Dobradinhas ao triplo


Hamilton vence com erros de Rosberg e Massa volta ao pódio com ajuda de Bottas. E deu pena da Ferrari.

“Foi ele”. “Não, foi ele”

Os dois pilotos da Mercedes chegaram para a décima terceira etapa do mundial deste ano com uma reprimenda daquelas do time prateado, visivelmente dividido entre os que defendem a livre disputa e aqueles que acham que incidentes como o que ocorreu na Bélgica, se repetidos, podem minar um campeonato que está quase decidido até matematicamente falando.

Orelhas vermelhas dos puxões que levaram, Hamilton e Rosberg foram para a pista e demonstraram que o sangue frio dos comandantes do time prateado ainda será testado, e muito, até o final da temporada. O domínio claro nos treinos mostrava uma corrida novamente resumida aos carros prateados e uma briga para ver quem seria o melhor do resto.

As apostas estavam todas voltadas para a equipe Williams, que se consolidaria como a segunda força em caso de alinhamento de seus carros na segunda fila. Pista favorável, mas não se podia esquecer que a casa era italiana. E a Ferrari começou os treinos dando trabalho, mostrando força, enquanto os outros tentavam o melhor possível. E uma das que tentavam o melhor possível era a McLaren, com Magnussen e Button fazendo ótimos treinos, embora ainda um pouco distantes de seus adversários mais fortes.

Lewis, o mais veloz na pista mais veloz.

Lewis, o mais veloz na pista mais veloz.

E não é que até Daniel Ricciardo ficou para trás? O vencedor das últimas duas provas, desta vez, não conseguiu repetir o bom desempenho e ficou inclusive atrás de seu companheiro de equipe, Sebastian Vettel, coisa rara de acontecer este ano.

Hamilton, com a fome de quem precisava dar o troco a qualquer custo em Rosberg, acabou ficando com a pole. Um alívio, sem dúvida, mas fruto de um final de semana tranquilo que ele tanto pedia. Rosberg foi batido por quase três décimos de diferença, quase a mesma distância que obteve para superar Valteri Bottas. Felipe Massa ficou com o quarto lugar, o esperado, e se posicionou até de certa forma distante dos dois carros da McLaren, que quase ficaram com o mesmo tempo na classificação, com o novato Magnussen novamente se colocando melhor que o veterano Button.

Fernando Alonso só conseguiu a sétima colocação, mais de 1.3s atrás dos carros da Mercedes. Isso significava, em estimativa, um minuto de desvantagem ao final da prova, uma verdadeira pancada para os tifosi, que já haviam se decepcionado com a desclassificação de Kimi Raikkonen no Q2, largando na décima primeira posição atrás de Sergio Pérez. Entre o espanhol e o mexicano, os dois carros da Red Bull.

Do meio para trás, quase a mesma coisa de sempre, exceto pela penalidade de dez posições tomada por Daniil Kvyat pela troca de motor de seu Toro Rosso. Com isso, o russo teve de largar da última fila.
A freada da chicane após os quase 400m de distância da largada indicariam se os pilotos da Mercedes estavam ou não dispostos a se respeitarem e se alguém iria meter o bedelho nesta briga.

Um passo para trás

Todos sabem de que Hamilton é extremamente veloz mas que seu equilíbrio emocional pode devastar mais seu tempo na pista do que uma falha mecânica. E Rosberg foi cruel, colocando o carro a frente de Hamilton logo nos primeiros metros e abrindo para fazer a chicane com certo conforto. Para piorar a condição do inglês, Magnussen veio desenfreado da quinta posição e foi disputar com Felipe Massa a primeira perna da chicane. Massa recolheu e deixou Hamilton na quarta posição apenas. Como se tivesse engatado a marcha ré, Bottas caiu para a décima primeira posição.

Não demorou muito e Felipe Massa e Lewis Hamilton mandaram Magnussen para o quarto lugar.

Raikkonen chegou a dar pinta que faria bonito, mas ficou na pinta apenas.

Raikkonen chegou a dar pinta que faria bonito, mas ficou na pinta apenas.

Como não tivemos incidentes na largada, exceto aqueles que dão uma cortada de caminho, um chega pra lá mais leve, e tal, Max Chilton resolveu voar e proporcionar o primeiro abandono da prova. O voo foi por cima da zebra e a estampada no muro não foi grave, mas a decolagem foi com as quatro rodas, coisa linda de se ver (para quem está fora do carro, claro).

A fila andava e Rosberg resolveu sacanear aqueles que brincavam de siga o líder. O alemão errou a freada da chicane ao final da reta dos boxes e teve que driblar os obstáculos de isopor para voltar ao traçado, mas sua vantagem era relativamente segura e ele nem perdeu a posição para Massa. O brasileiro, por sua vez, tinha em seu retrovisor um inglês mordido, virando voltas mais rápidas, e não conseguiu segurar a boa segunda posição que conseguiu na largada. Rosberg respondia andando mais rápido.

Quatro, três, dois segundos, e a diferença caia entre os líderes. Massa já estava isolado, sem ameaçar os ponteiros, mas também sem receber qualquer ameaça de Magnussen, Vettel, Button, Bottas, Alonso e Pèrez, que vinham muito próximos.

Com o começo das paradas de box, Ricciardo e Kvyat subiram bastante de posição com a estratégia de se manterem na pista por mais tempo. O australiano aparecia em quarto e o russo já era o sétimo colocado.

Rosberg parou primeiro que Hamilton, e Bottas veio junto, mas aí que aquelas posições perdidas na largada fizeram diferença de novo. Apesar de já aparecer entre os primeiros, Bottas perdeu várias posições e caiu para nono.

Pista livre para Rosberg quando Hamilton parou e retornou logo atrás dele, para darem sequência a perseguição tão aguardada.

Pé cravado o tempo todo

Monza tem uma particularidade que é a de permitir que você, através das longas retas, permita que você veja os carros se aproximando gradativamente a cada volta, quase como olhar o ponteiro dos segundos em câmera lenta. E Hamilton fazia isso, minando a paciência e a concentração de Rosberg com uma aproximação lenta, mas constante. A tão esperada batalha pelo primeiro lugar, desta vez, não aconteceu.

Rosberg cometeu mais uma vez o mesmo erro de voltas anteriores ao final da reta dos boxes. Sem explicação aparente, o alemão saiu da pista mais uma vez, só que agora não deu para segurar a ponta, deixando caminho livre para Hamilton. Desta vez não teve “Totó” de nenhum lado.

Brigas em vários trechos da pista. Entre os novatos, Bottas e Magnussen travaram um duelo bem animado, até que o dinamarquês colocou o piloto da Williams para fora da pista, de maneira um tanto ostensiva, o que rendeu uma penalidade de 5s ao piloto da McLaren. Button e Pérez, relembrando o ano passado em que correram pela equipe de Woking, também fizeram a alegria dos torcedores dividindo curvas em sequência a poucos centímetros entre os pneus.

Massa, corrida solitária e pódio.

Massa, corrida solitária e pódio.

Ricciardo era, de novo, o cara das últimas provas, e fez linda ultrapassagem sobre Raikkonen, já de pneus noves e chegando para assistir de camarote a briga entre Button e Pérez. Só que Ricciardo quis interagir com a briga entre os ex-companheiros e deixou ambos para trás, com ultrapassagens seguras, indo em perseguição ao companheiro Vettel. Mas ainda tinha Magnussen pela frente.

Só que Button e Pérez não sossegavam. O mclariano passou o mexicano, que esperou mais três curvas para poder dar o troco e deixar o inglês enraivecido, mas sem poder de reação.

E por falar em reação, olha o Bottas chegando ao quarto lugar, em uma ótima recuperação.

A prova de encaminhava para o final quando Ricciardo ganhou a posição de Magnussen e fez uma ultrapassagem espetacular sobre Vettel. Preparada, estudada, Ricciardo confessou que ao ultrapassar o alemão, sorriu dentro do capacete.

Alonso já tinha abandonado havia muito tempo, por falha mecânica, o que não acontecia desde o GP da Malásia, se não me engano em 2010. E, por falar em abandono, Esteban Gutiérrez quis colocar o nobre Grosjean para fora, jogando o carro com tudo, em plena reta principal. O saldo para o mexicano foi ter que fazer quase uma volta em três rodas. Mas o abandono mais perigoso foi o de Daniil Kvyat.

Como um míssil russo, Kvyat também foi um a passar reto no final da reta dos boxes, só que por muito pouco ele não atingiu o carro de Raikkonen e a fila que ia a frente dele. Nada de mais para o piloto da Toro Rosso, a não ser a frustração de dar adeus aos pontos em uma corrida em que estava tão bem.

Lá na frente, Hamilton não deu chance para Rosberg e faturou o GP italiano, diminuindo a diferença para o alemão em sete pontos na classificação geral. Em terceiro, sozinho, chegou Felipe Massa, sem cometer erros. Bottas, Ricciardo, Vettel. Três equipes diferentes nas seis primeiras posições, todas em dobradinha. Pérez quebrou a ordem das coisas, mas não seria ele a conquistar a sétima posição caso Magnussen não fosse punido. Button foi oitavo, Raikkonen apenas o nono e o penalizado dinamarquês o décimo. Muito pouco para a Ferrari, correndo em casa, mas é o que tinha para domingo.

Vinte e nove pontos separam Rosberg de Hamilton agora. Ainda é muito, mesmo com o regulamento deste ano tendo a prova final em Abu Dahbi com a pontuação dobrada. Na melhor hipótese, com Hamilton vencendo o GP final e Rosberg completando a dobradinha, a diferença cairia para 15 pontos, que teriam que ser discutidos em outras cinco provas. Será que fica para a última etapa?

Palpitando:

– Dizem que os erros de Rosberg foram propositais, e que seriam um pedido de desculpas pela forçada em cima de Hamilton na Bélgica. Se realmente for verdade, Rosberg vai ter que errar muito até descontar os 18 pontos que obteve de vantagem na ocasião, ou enfiar logo o carro no muro;

– Ricciardo, mesmo largando atrás, e bem atrás de Vettel, chegou na frente do tetracampeão. Anda muito o canguru sorridente;

– Hülkenberg tem feito uma temporada muito discreta e Sergio Pérez vem demonstrando que poderiam ter tido um pouco mais de paciência com ele na McLaren. É a vida;

– Fala-se em uma Fórmula 1 com oito equipes e três carros cada uma. Se tivermos quatro motores e dois fornecedores de pneus, seria muito interessante em minha opinião, mas é utopia;

– Assassinaram a curva parabólica com uma faixa de asfalto. Se é para separar os homens dos meninos, que seja na brita;

– Hamilton conseguiu o Hat Trick (pole, vitória e melhor volta). Psicologicamente, excelente.

NOTA: Sei que notícia velha não tem graça, mas motivos profissionais não permitiram que a resenha ficasse pronta antes. Obrigado pela compreensão.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Glauco de F.Pereira says:

    Hamilton deu a “volta por cima”, psicologicamente, em Rosberg?

    As duas saídas ao final da reta do boxes foram sinal da pressão psicológica por tudo que aconteceu na Bélgica?

    Demonstrou-se assim que Rosberg também tem seu calcanhar de aquiles, e, que, talvez, sem querer, Hamilton descobriu que Rosberg não é tão forte psicologicamente assim?

    Podemos afirmar que o maior prejudicado de tudo o que aconteceu na Bélgica, por mais absurdo que possa parecer, foi Rosberg, que perdeu aquela aura de “bom moço” que não faz nada de errado?

    Respostas em Singapura!

  2. Fabio A. says:

    Esse pega do Button e do Perez foi lindo de assistir.

    O Massa foi beneficiado da má largada do Hamilton e do Bottas… não fez nada demais.

    Não acredito que o Rosberg tenha errado de propósito para aliviar pro Hamilton…

    Seria muito bacana ver o Rosberg chegar com 50 pontos de vantagem na última etapa, ver o Hamilton ganhar a prova e o Rosberg chegando na 10ª posição e faturando 1 ponto e o título!!

    Deu pra perceber que não gosto do Hamilton né!? kkkkkk

    Bebezão chorão! HAHAHAHAHA

    Mesmo na correria, mais um ótimo post Laurão!! Bon voyage!!

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