Ainda sob choque


O primeiro GP da Rússia foi marcado pelo semblante sério e por vezes triste dos pilotos, que ainda não haviam se recuperado do baque causado pelo acidente de Jules Bianchi no Japão.

Pessoal,
Sei que posso decepcionar a vocês em não falar muito sobre o GP da Rússia, o primeiro da história naquele país e que tem um significado político único. Desculpem-me.

Eu até queria começar esta resenha, ainda mais depois de tanto tempo passado, dizendo que Jules Bianchi encontrava-se em plena recuperação, fora de perigo e que voltaria ao volante do Marússia #17 em breve. Infelizmente, não podemos dizer isso. O GP, que aconteceu apenas uma semana após o terrível acidente de Bianchi, foi realizado sobre forte emoção, com justas homenagens e pedidos de oração a Jules. A equipe, em forma de homenagem também, foi para a pista com apenas o carro de Max Chilton, mas deixou o carro de Bianchi montado nos boxes. Toda uma geração abalada pela tragédia na pista, por um companheiro de profissão, como não acontecia há duas décadas.

"Pisa no freio Zééééé!"

“Pisa no freio Zééééé!”

Não bastou uma pista nova para tirar a vantagem dos carros da Mercedes. Imbatíveis nos treinos, coube mais uma vez a pole para Lewis Hamilton, com Rosberg assegurando o lugar que é sempre da Mercedes na primeira fila. E, se serve de constatação, a pista nova ratificou o excelente campeonato de Valtteri Bottas, terceiro no grid. Infelizmente, Felipe Massa teve um problema e acabou largando apenas nas últimas posições.

Vale uma nota ao excelente desempenho dos carros da McLaren e do menino da terra, o russo Daniil Kvyat, que conseguiu um quinto lugar no grid de forma espetacular.

Em meio as especulações de qual será o destino de Fernando Alonso, o espanhol tratou de mostrar, de novo, que só precisa de um carro um pouco melhor para brigar de igual para igual pelo título. E que largada foi aquela, hein?!

Primeiro pela manobra desesperada de Rosberg em tentar ultrapassar Hamilton na primeira curva (ou segunda), esquecendo-se do ditado máximo que diz que “não se ganha uma corrida na primeira curva, mas se perde”. Parecia mais um avião da esquadrilha da fumaça ao lado de Hamilton. Foi ali mesmo que os pneus ficaram quadrados e, a parada nos boxes ainda na primeira volta apenas reafirmou o ditado.

E, ainda falando da largada, aquela curva de raio longo, a #3, é uma coisa insana na hora em que todo mundo busca uma posição. Apesar do circuito ser um tanto artificial, esta parte é bem interessante. Foi neste trecho que a pista ficou estreita para muita gente e Kvyat foi um dos que já foi ficando para trás, perdendo posições e, na luta para se manter a todo custo entre os primeiros, quase provoca um acidente entre os dois carros da Red Bull que vinham logo atrás.

Como eu disse, Rosberg entrou nos boxes logo na primeira volta e Felipe Massa resolveu fazer o mesmo, apostando em um improvável, mas possível, desempenho que o levasse a fazer apenas a parada obrigatória. Bottas, neste momento, parecia tentar uma aproximação sobre Hamilton, mas sem ameaça efetiva.

Vettel vai se despedindo da Red Bull tendo a oportunidade de conhecer bem o seu carro por trás.

Vettel vai se despedindo da Red Bull tendo a oportunidade de conhecer bem o seu carro por trás.

O bom desempenho dos carros da McLaren fez com que Button e Magnussen ficassem confortáveis na prova, exceto quando ambos estavam brigando entre si, vislumbrando um pódio logo atrás de Bottas. Mas isso não seria possível porque Nico Rosberg fez uma corrida de recuperação incrível e veio deixando no retrovisor todo mundo que tinha um carro diferente do seu. O alemão sim, com o carro bem equilibrado, conseguiu levar até a bandeirada com apenas uma parada, o que Massa não conseguiu. Aliás, foi uma corrida atípica pois somente 3 pilotos fizeram mais de uma parada (Massa, Kvyat e Ericsson).

Para um circuito tido como impossível de se ultrapassar, até que Rosberg e Massa trataram de mostrar o contrário. Claro que a diferença de equipamento em relação aos demais é enorme, mas ainda assim não dá para tirar o mérito dos dois, mais do alemão, que chegaria em segundo para mais uma dobradinha da Mercedes e para ele próprio seguir vivo na disputa pelo mundial. Massa acabaria ficando preso atrás de Pèrez.

Em si, a corrida foi sem muita emoção, mas acho que o circuito russo deve ficar no calendário por alguns anos ainda.

Mesmo tendo uma certa ameaça de Rosberg faltando vinte voltas para o final, Hamilton parece que nem se importou com isso e, com a vitória, o inglês tem agora 17 pontos de vantagem para Rosberg e entra na semana da antepenúltima etapa pensando em mais uma vitória, que pode proporcionar a ele vencer o campeonato sem precisar de uma nova vitória nas duas etapas finais, coisa que Rosberg teria por obrigação fazer caso Hamilton fosse o segundo colocado. Hamilton já venceu oito provas, acho que mais uma em três etapas é algo fácil. Para o campeonato ficar imperdível em Abu Dahbi, uma possibilidade seria com duas dobradinhas Rosberg-Hamilton, nesta ordem, o que poderia levá-los aos Emirados Árabes separados por 2 pontos. Como a pontuação será dobrada, quem chegar na frente do outro leva.

Briga de veteranos, ainda sem contrato para 2015.

Briga de veteranos, ainda sem contrato para 2015.

Daniel Ricciardo praticamente se confirma como sendo o melhor do resto, e olha que no resto estão Vettel e Alonso, que neste momento perdem também para Vatteri Bottas.

Neste GP, a Mercedes confirmou matematicamente a conquista do Mundial de Construtores, inédito, o que era a maior barbada desde o início do campeonato. É um título que vem após a conquista da Brawn em 2009, que passou a Mercedes em 2010 e que teve ao seu volante ninguém menos que Michael Schumacher por três temporadas, além da chefia de Ross Brown. E nenhum deles conseguiu este feito, que veio depois de 13 vitórias (sendo 9 dobradinhas) em 16 etapas, e mais 15 poles.

Palpitando:

– A Fórmula 1 está abalada e a falta de notícias sobre Jules Bianchi deixa no ar um sombrio desejo de que o campeonato acabe logo. Todos correram com adesivos nos capacetes em homenagem ao piloto francês;

– Foi a última corrida em que a Ferrari foi presidida por Luca di Montezemolo, que foi convidado a se retirar depois de 23 anos. Será que agora vai?;

– Hülkenberg fica na Force India, está decidido;

– A oscilação de Felipe Massa tem sido desastrosa. Se você comparar o desempenho do brasileiro com o de Bottas, aí fica ainda mais claro que o brasileiro está, mesmo, em fim de carreira;

– Caterham e Marussia não devem chegar ao final de 2014, lamentavelmente (ou não).

O camarada inglês.

O camarada inglês.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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