A tempestade de areia de Nico


Enquanto Hamilton segue unanime em poles e já acumula três vitórias, Rosberg sucumbiu a investida final de Raikkonen e expôs de vez sua fragilidade. Quem sabe as semanas de intervalo o ajudem.

A força da Ferrari

Todo mundo já sabe que a Ferrari é a segunda força da temporada mas, no Bahrein, a equipe italiana mostra que caminha a passos seguros para ameaçar com mais seriedade a hegemonia prateada da Mercedes. Eu não estou falando do primeiro treino livre, em que os pilotos da escuderia italiana fizeram a dobradinha na ponta da tabela, com Kimi Raikkonen a frente de Sebastian Vettel. É que a Mercedes nem se esforçou, e ficou evidente. Quando fizeram pra valer, os carros alemães voltaram para a ponta, com Nico Rosberg a frente de Lewis Hamilton, mas os dois carros da Ferrari logo atrás, novamente Raikkonen e Vettel nesta ordem.

No sábado, tanto no treino livre 3 quanto na classificação, a ordem foi a mesma dos quatro primeiros, com Hamilton se segurando na ponta e Rosberg ficando ensanduichado pelos carros #5 e #7, coincidentemente sendo ele o #6. Alegou erro de estratégia, disse que economizou pneus, mas não colou. Vettel foi mais rápido que ele e ponto. Surpresa? Sim, porque os carros da Mercedes são totalmente favoritos, ainda. E, não, porque Rosberg esteve mais preocupado em reclamar de Hamilton do que concentrar-se em seus acertos, que não tem encontrado nos últimos tempos.

Massa tinha o sexto lugar no grid, mas teve que largar dos boxes.

Massa tinha o sexto lugar no grid, mas teve que largar dos boxes.

E o Bottas parece que melhorou de vez da dor nas costas, colocando-se a frente de Massa. E olha que os carros da Williams andaram bem no Bahrein, especialmente com o finlandês, sempre a frente do companheiro Massa, que enfrentou problemas de acerto no carro, segundo ele mesmo. Mal sabia que o sexto lugar seria apenas… Deixa pra lá, depois falamos de Massa.

Duas apostas quase certas para o Q3 eram as presenças dos dois carros da Lotus e de Felipe Nasr, que andaram muito bem entre os dez primeiros praticamente todo o final de semana. Só que apenas Grosjean conseguiu seu lugar na parte final do treino, e mesmo assim foi na bacia das almas. Maldonado teve problemas de motor e ficou no Q1, junto com Kvyat. Já Nasr ficou pelo Q2, ainda que a frente de Marcus Ericsson, que com o bom carro que tem já está se achando até um bom piloto.

Assim como no caso da Lotus, a Red Bull também teve um representante eliminado na primeira parte do treino e um que foi para o Q3. Daniel Ricciardo fez um ótimo sétimo lugar, com todas as brigas entre a equipe e a fornecedora de motores, a Renault. O australiano tem sido constante, sempre ali atrás das três primeiras forças da temporada.
Surpresa ficou com Nico Hülkenberg, que ficou em oitavo, e Carlos Sainz Jr., que levou a Toro Rosso para o nono lugar. No mais, tudo normal (ou quase). Quase porque Fernando Alonso conseguiu levar a problemática McLaren para o Q2, pela primeira vez. E foi um resultado sensacional a julgar que Button nem conseguiu marcar tempo. Não estou louco não, o Q2 para a McLaren é um feito.

Massa apagou

Eu não sei se foi para comemorar mais um ano de vida do patrão Frank Williams, aniversariante da semana, mas se alguém nos boxes estava cantando parabéns pra você na largada e gritou “apaga!”, Massa obedeceu. Brincadeiras a parte, o brasileiro não conseguiu sair para a volta de apresentação e ficou com a alegria de ter de largar dos boxes.

Hamilton indo e Rosberg ficando. Começou assim.

Hamilton indo e Rosberg ficando. Começou assim.

Muita demora para o acender das luzes vermelhas e quando elas finalmente se apagam, Hamilton consegue segurar a ponta, mas Raikkonen se coloca por fora na curva 1 enquanto Vettel segurava o compatriota Rosberg. Em seguida, Raikkonen passa por Rosberg, para vibração intensa do box da equipe italiana. Hülkenberg largou muito mal e perdeu posições, caindo para o meio do pelotão onde era um festival de chega pra lá e toma de cá que, sinceramente, não sei como ninguém deixou a prova mais cedo. Sem contar Button, que nem alinhado.

Em fase de recuperação, Massa começa a remar tudo de novo enquanto Rosberg consegue ultrapassar Raikkonen, mesmo com o finlandês vendendo muito caro a ultrapassagem. Bottas se aproximou de forma perigosa.
A corrida de Sebastian Vettel foi atípica hoje. Com aparente desgaste dos pneus, Vettel deu uma pequena errada e viu Rosberg chegar definitivamente e ultrapassar com autoridade. Parecia que Rosberg havia assimilado o problema nos treinos e que estava mais forte.

Um momento de emoção da prova veio logo após as paradas de box de Vettel, Rosberg e Hamilton. Vettel havia ganho a posição de Rosberg em seu pit-stop, só que sabia que precisava ir para cima do alemão sem perder tempo. Quando Hamilton saia dos boxes, Rosberg e Vettel desciam lado a lado, parecendo duas espadas de São Jorge, e foram brigar na zona destinada aos carros que saem dos boxes. Quase que os três se acham e a corrida por pouco não caia no colo de Raikkonen, que também parou logo em seguida.

Fernando Alonso até aparecia por vezes na zona de pontuação, dependendo do trabalho de box dos adversários. Só que a falta de potência do McLaren ainda é tão grande que ficou muito nítida quando o asturiano brigava com Kvyat e acabou tomando um “X” do garoto. Isso custou a Alonso a nona posição, mas o asturiano ainda não conseguiria marcar seus primeiros pontos no retorno a McLaren porque Felipe Massa tomaria a décima posição dele e marcaria seu ponto de honra.

A vitória de Hamilton era certa, salvo algum problema mecânico que pudesse acontecer. Mas ainda não havia segurança para a dobradinha da Mercedes, porque Raikkonen se aproximava constante e perigosamente do alemão. Faltando 5 voltas para o final, o finlandês da Ferrari estava a apenas 3.5 segundos de Rosberg, diferença que veio sendo pulverizada volta a volta. Vettel não era ameaça real. Só para Bottas. O outro finlandês, que também fazia uma ótima prova, quase foi acertado em cheio por Vettel no final da reta dos boxes. Por muito pouco não acontece uma barbeiragem do tetracampeão, e iria acabar com a excelente corrida do piloto da Williams.

Rosberg e Vettel duelando quando Hamilton saia dos boxes. Saindo faísca.

Rosberg e Vettel duelando quando Hamilton saia dos boxes. Saindo faísca.

Ricciardo ajuda no show pirotécnico

Mas vamos voltar ao pega entre Raikkonen e Rosberg. A diferença diminuiu muito quando ambos pegaram trafego, faltando menos de quatro voltas. Se livraram, mas ai Raikkonen já estava muito próximo e planejava o ataque final nas últimas duas voltas. Só que Raikkonen não imaginava que a vida dele seria facilitada por um erro de Rosberg, que ao abrir a penúltima volta não conseguiu segurar o carro e deixou o caminho livre para Raikkonen garantir o segundo lugar na corrida, voltando ao pódio, o que não acontecia há mais de um ano e meio, desde o GP da Coréia, em 2013.

Um final que deu um pouco de emoção e uma prova que não foi nem sombra da do ano passado, que considero épica. Mas teve a já tradicional queima de fogos na hora da bandeirada, com direito a um convidado especial: Daniel Ricciardo. O piloto sorriso fez questão de cruzar a linha de chegada com o motor estourado e soltando fumaça para todo lado. A pirotecnia foi bonita, mas o “purê de metales”, como disse o narrador, em espanhol, da tv que eu estava assistindo. Mais problemas a vista entre a Renault e a Red Bull, com certeza.

Rosberg alegou ao final da prova que teve problemas de freio, o que parece realmente ter sido verdade porque, ao escapar da pista, o alemão não travou as rodas, o que endossa suas palavras. Mas até ai o mundo já tinha caído na cabeça de Rosberg. Na sala que antecede ao pódio e durante a cerimônia de premiação, era claro o abalo no rosto do piloto alemão, contrastando muito com a alegria de Hamilton. Raikkonen? Indiferente, como de costume.

Ricciardo com o novo Red Bull da esquadrilha da fumaça.

Ricciardo com o novo Red Bull da esquadrilha da fumaça.

A diferença que Hamilton tem para Rosberg no mundial já é de mais de uma vitória, mais precisamente, 27 pontos. É cedo para isso, mas nesta média, Hamilton terminaria o campeonato com mais de 100 pontos de vantagem para Roaberg, e isso se Rosberg for o vice campeão, já que Vettel está a apenas 1 ponto de diferença, aliás a mesma diferença entre Massa e Bottas, quinto e sexto colocados respectivamente. Raikkonen é o quarto.

Ao desligar dos motores

– Nico ameaça abandonar a Fórmula 1. Desiludido com o carro, o alemão que já teve seu nome vinculado a Ferrari e McLaren nos últimos anos, se diz decepcionado com o carro e se acha (e é) capaz de muito mais. Pensa em se mudar para a DTM. Falo de Hülkenberg;

– Por falar em homônimos, os Felipes não tiveram vida fácil na etapa do Bahrein. Massa, como dissemos, perdeu o direito de largar do grid e apenas conseguiu um pontinho, enquanto Nasr ainda laterna uma no cravo, outra na ferradura, ou seja, uma marca pontos, outra não. Essa foi outra “não”, mas ainda assim, seu companheiro Ericsson não fez nada melhor;

– Sergio Pérez não chegou ao pódio como no ano passado, mas pode comemorar o oitavo lugar e os primeiros pontos na temporada com um ótimo oitavo lugar. Para as limitações do carro, eu diria que foi excelente;

– Olho na Lotus. Romain Grosjean continua marcando pontos importantes, foi o sétimo colocado agora, e o carro parece que realmente é bem melhor que o do ano passado. Só os pilotos não mudaram muito. Grosjean continua amadurecendo e Maldonado, que se envolveu em um acidente com Massa durante a prova, causando;

– Há um movimento para que a Fórmula 1 se reinvente. É tem que ser urgente.

Bonita imagem.

Bonita imagem.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *